quinta-feira, 21 de maio de 2009

Resgatando a história: Wilson Simonal

Os cinemas brasileiros exibem a partir desse mês o documentário “Simonal: Ninguém sabe o duro que deu” dirigido pelo trio Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal. O filme retrata a história de um dos mais importantes cantores da música popular brasileira da década de 60 e investiga da ascensão a queda, acompanhada do ostracismo em que caiu graças a boatos e tudo o que houve por trás da história.


Resgatando a trajetória do cantor estão presentes depoimentos de personalidades, entre eles os filhos de Simonal, jornalistas e figuras como Pelé. A grande cartada do filme é o depoimento de Rafael Viviani, principal envolvido na acusação do artista. “O Viviani é mais importante até do que o Pelé” disse ao portal UOL o diretor Langer, que foi o responsável pela entrevista e pela contratação de detetives para encontrar Rafael Viviani.

Conforme Langer, a proposta do filme é o entretenimento do público, graças ao envolvimento de apresentações de sucessos de Simonal, relacionados a fatos históricos do Brasil. "É a história mirabolante de um grande artista brasileiro, de uma capacidade vocal e de comunicação com a platéia que nunca mais existiu no país. Um cara espetacular que se envolveu no auge do sucesso em uma história conturbada, muito mal explicada e que a gente resolveu então tentar descobrir o que aconteceu", diz o diretor a Folha Online.

Juntamente, ou em conseqüência do lançamento do filme, estão sendo veiculadas reportagens e divulgadas publicações de livros, despertando lembranças dos mais velhos e curiosidades dos que não viveram na década de 1980.

Simonal

Wilson Simonal de Castro nasceu no dia 23 de fevereiro de 1939, na cidade do Rio de Janeiro. Foi pai de dois filhos músicos, Wilson Simoninha e Max de Castro e uma filha, Patrícia. Morreu de cirrose decorrente do alcoolismo após tornar-se deprimido ao cair em esquecimento a partir dos anos 80.


Carreira e sucesso

Começou sua carreira ao servir o exército e cantar em bailes do regimento até começar a se apresentar em shows com músicas cantadas em inglês. Profissionalizou-se em 1961 ao ser descoberto pelo produtor e compositor Carlos Imperial, integrou grupos, apresentou programas de televisão e cantou em casas noturnas. De 1966 a 1967 se consagrou interpretando músicas como "Meu Limão, Meu Limoeiro" e "País Tropical" (de Jorge Ben Jor) e apresentando o programa “Show em Si... monal”, pela TV Record, responsável por festivais que projetaram nomes da MPB como Chico Buarque, Caetano Veloso e Elis Regina. No auge de sua carreira, assediado pela imprensa e pelos fãs, Simonal foi a Copa do Mundo acompanhar a seleção brasileira de futebol em 1970.

O suposto crime


Em 1971, o cantor desconfiou que estaria sendo roubado pelo seu contador Rafael Viviani, e contratou gente para lhe dar uma surra. Viviani se aliando a João Carlos Magaldi, na época diretor da Central Globo de Comunicação, espalhou o boato de que Simonal seria informante a serviço da ditadura militar. Durante a apuração da surra o cantor foi acusado de estar a serviço do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), o temido órgão de repressão política, acusado de torturar presos políticos durante a ditadura.

Aumentando a bola de neve, órgãos de imprensa aceitaram as denúncias como verdadeiras e começou a perseguição contra o artista. O jornal alternativo, O Pasquim, acusou-o de “dedo duro”, e assim começa o declínio de sua carreira perdendo prestígio e sendo desmoralizado perante artistas e amigos.

A surra dada em Viviani rendeu a Simonal, em 1972, mais de cinco anos de prisão, que foram cumpridos em liberdade.

Mesmo o boato que o vitimou sendo desmentido várias vezes, o público e a classe artística se voltaram contra ele, que não conseguiu se livrar da fama de traidor.


As consequências


Após os boatos se espalharem, Simonal parou de fazer shows e não gravou mais discos. Qualquer músico que tocasse com ele iria para uma lista negra e seria proibido de tocar. Um grande artista foi privado de seu talento e do exercício de sua profissão com base em uma mentira sórdida, o meio musical se acovardou e se calou.

Tarde Demais


Em 2003, a Ordem dos Advogados do Brasil reabilitou simbolicamente Simonal, como conseqüência do requisito da família do cantor para verificar a acusação de informante no regime.

Um documento datado de 1999 pelo secretário dos Direitos Humanos, José Gregori, atestava que nem no Centro de Inteligência do Exército, nem nos arquivos do Serviço Nacional de Informação constava que Simonal houvesse sido informante dos órgãos citados, ou seja, não havia nenhuma prova contra o acusado. Tarde demais, o cantor morreu três anos antes da reabilitação da OAB, no dia 25 de junho.

Contextualizando


Ao comparar o caso do cantor de música popular brasileira a outros, como por exemplo o caso da Escola Base em 1994, é perceptível o fato de que a imprensa há anos tem um poder de influência incalculável, podendo transformar e denegrir a imagem de uma pessoa de acordo com o que publica em sua manchete, sendo a informação verdadeira ou não.

Jornalista, como qualquer outro ser humano, sempre “compra” um lado da história, sua responsabilidade é assumir uma perspectiva de trabalho e ideais, apurar e relatar os fatos e publicar aquilo que esclareça a população independente da sua própria opinião, de dinheiro, da vontade do veículo ou principalmente dos interesses do governo do país. Restando esperanças assim de excluir histórias semelhantes a de Wilson Simonal da história do jornalismo brasileiro.



Texto: Isabela Rios
Fotos: Folha Online, Uspfm e Cinemagia

4 comentários:

Julio disse...

Tema muito bom, e retratou direitinho todos os detalhes. Parabens

@jak_xD disse...

Gostei bastante do texto pois, eu não conhecia muito sobre Simonal.

E ao longo do texto a conclusão que eu cheguei foi colocada no "Contextualizando". Sem dúvida, o poder que um jornalista tem em suas palavras é enorme.
Temos de, desde já ter isso em mente pára exercermos a profissão com muita ética.


:*

Anônimo disse...

assistam o filme..
vale a pena!

Amanda disse...

Muito interessante a história de Simonal! Eu ainda não assiti o filme, mas quero muito!
Concordo o a Jack ai em cima, o poder do jornalista de construir ou destruir a vida ed uma pessoa é muito forte, precisamos ter consciencia do que fazemos!

Amanda
a_nota_m2.livejournal.com